Image Image Image Image Image
Scroll to Top

Para o topo

Nome de Batismo  – Desenvolvimento de Projeto (2015-21) Nome de Batismo  – Desenvolvimento de Projeto (2015-21) Nome de Batismo  – Desenvolvimento de Projeto (2015-21)

Nome de Batismo – Desenvolvimento de Projeto (2015-21)

Documentário | 2015-21 | 5 docs

O Projeto Nome de Batismo consiste na produção de uma série de documentários, inspirados nas histórias que estão por trás da origem do nome da diretora. O Primeiro curta, Alice , lançado em Dezembro de 2017 ,  foi exibido em mais de 20 festivais e conquistou os prêmios de Melhor Documentário Curta-Metragem Brasileiro do 23° É Tudo Verdade, entre outros prêmios.

O segundo, Frances  será lançado no 24° É Tudo Verdade,  em abril de 2019. Os demais , Tilovita, Sicato e Chitunda estão em fase de desenvolvimento. Conheça as histórias que inspiram cada filme.

Alice – é o meu primeiro nome de batismo.  Recebi este nome em homenagem a minha avó que se chamava Helena Alice e nasceu no planalto central angolano no início do século XX. Por causa da guerra nós não nos conhecemos. Através da investigação das histórias que deram origem ao meu primeiro nome, mergulhei nas raízes do povo Ovimbundu, etnia da família dos Bantu que se estabeleceu há mais de 1500 anos no planalto central do atual território angolano. Por meio da descoberta do pai da minha avó, o Soba SAPATA, tentei entender como meus antepassados conseguiram “escapar” da escravidão durante o período colonial português, assim como um Soba Ovimbundu decidiu batizar sua filha Alice, e seus outros 7 filhos, com nomes ocidentais.

Francesmeu segundo nome de batismo é uma homenagem a uma freira Beneditina , que atuou no sistema educacional de Angola durante o período colonial. Neste época ela conheceu meu pai e eles se tornaram grandes amigos. Quando a Guerra angolana começou , essa freira foi fundamental na fuga de minha família de Angola para o Brasil. Inspirado na história dessa religiosa católica e de um casal de missionários protestantes norte-americanos, que também atuaram em Angola, o curta Frances pretende fazer uma reflexão sobre o papel que a educação teve no processo de libertação do povo angolano.

Tilovita – é meu terceiro nome. Este nome, criado por meus pais, é uma contração da expressão Umbundo TILA OVITA, que significa fugitiva de guerra. Este registro poderá contar a história da minha tia Angelina Jamba que não pôde sair do campo de refugiados com meus pais em 1976, e vagou por mais de  20 anos, junto com seus 2 filhos, nos campos e nas matas da Namíbia, fugindo da guerra. Nosso desejo seria prestar uma homenagem a uma “verdadeira fugitiva de guerra”, que hoje mora no Lubango, sudoeste angolano, e mesmo diante de todas as dificuldades, retomou sua vida.

Sicato – A vida de meu avô SICATO, pai da minha mãe com quem convivi alguns anos em Olinda, pode oferecer um outro recorte desta memória. O avô Sicato nasceu em 1910 em Nova Sintra, atual Catabola, onde ele se tornou chefe de estação da primeira linha de trem que cruzava Angola de leste a oeste. Este símbolo do “progresso” da nação angolana, que permitia escoar as riquezas minerais do centro do continente, veio junto com uma política portuguesa chamada de “Regime dos Nativos”. Esta política dividia a população em três categorias: os “Nativos”, negros que podia ser submetidos ao trabalho forçado, os “Assimilados”, uma combinação de mestiços e alguns negros que tiveram acesso à educação portuguesa e os “Civilizados”, portugueses que moravam em Angola. Quando pergunto a minha mãe sobre o que era necessário para se tornar um negro assimilado numa nação composta por 98% de “nativos”, ela me conta da obrigação do uso dos talheres, do paletó e de falar corretamente a língua portuguesa. Nessa hora, sempre me lembro do meu avô, que insistia em falar Umbundu comigo, mesmo que eu não entendesse nada. Hoje, como ironia da história, o progresso angolano vem sendo mais uma vez simbolizado pela reabertura desta linha de trem, desta vez pelos chineses.

Chitunda – A vida de meu pai Teodoro CHITUNDA, que nasceu numa família camponesa e se tornou inspetor escolar do governo português, se revela a ocasião de fazer uma reflexão sobre os desafios de integração social que a família Chitunda precisou superar ao longo de toda sua trajetória.  Como, durante o regime colonial em Angola, Teodoro conseguiu dar a sua família, acesso à educação ocidental e escapar do trabalho forçado? Como, enquanto refugiado de guerra em Pernambuco, conseguiu superar os preconceitos e proporcionar que todas suas filhas estudassem nas universidades públicas mais reconhecidas do estado?  Por causa de sua desenvoltura, minha avó Julieta, mãe do meu pai, se referia a ele como “a mosca que virou abelha”.